A leitura de alguns capítulos do livro A Invenção da Cultura, do antropólogo Roy Wagner, fomentou discussões que levantaram pontos essenciais para o estudo sobre a cultura e sobre a relação entre o fazer etnográfico e tais estudos, além de relacioná-los com a dinâmica de atuação da monitoria. É relevante compreender que a etnografia não é só o estudo descritivo dos povos, sua etnia, língua, costumes, etc. O etc talvez não dê conta da dimensão que esse método abrange. Mais que descrever, é interpretar. Mais que comparar, é refazer os dois lados. É admitir que nem o etnógrafo nem o nativo, ou aqueles que em algum momento cumprem esses papéis, serão os mesmos após o contato. Assim, a ideia de que a presença de um ser estrangeiro pode modificar os modos de agir no contexto de uma cultura não é válida somente para trabalhos etnográficos, ela se enquadra, também, na realidade do mapeamento.
O que para os monitores pode ser uma forma de inserir-se no contexto do ambiente visitado para quem os observa pode parecer invasão. O que para os anfitriões é uma maneira de receber pode ser interpretado com certo estranhamento pelos visitantes. São riscos que todos estão sujeitos a correr e que fazem parte da construção da relação entre observadores e observados, não excluindo a possibilidade de inversão dessas funções. É nesse processo de reinvenção do outro a partir dele e de si mesmo, e, de reelaboração de si partindo do outro que reside a importância dessa relação.
O contato com um universo de significados diverso daquele no qual se tem origem é a porta de entrada para que se entenda o uso do termo cultura no plural. Dessa maneira, compreender que não deve haver um índice de desenvolvimento que rotule determinada cultura em inferior ou superior, como também, entender que o que há entre as culturas é uma diferença na construção de sentido de símbolos, costumes e crenças é imprescindível para os que se aventuram nos caminhos do estudo das culturas e de seus desdobramentos.
Situações desafiadoras orbitam nessa realidade. O desafio de ser rápido para perguntar e de ser atento para ouvir. O desafio de tentar não interferir intensamente no meio e de estar ciente da existência de uma ordenação no funcionamento da nova realidade. O maior de todos eles, porém, é não permitir que os juízos de valor que todos carregam em si interfiram negativamente na vivência com o novo ambiente e com tudo que emerge dele. Não é porque um elemento ainda não faz sentido para o observador que ele deve ser ignorado ou supervalorizado. O entendimento das culturas ultrapassa essa postura. Ele é pautado por um compromisso maior, o de respeito e reconhecimento das diferenças como forma de descoberta do outro e de tomada de consciência de si.
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