domingo, 23 de outubro de 2011

O papel que nos cabe

Desde que o trabalho do mapeamento das mídias do Cariri cearense se iniciou, foi ficando cada vez mais evidente a importância de um curso de Comunicação Social na região. Com a proximidade da conclusão dos trabalhos, chegam momentos de reflexão, avaliação e revisão do que até agora tem sido observado.

Não há um jornalista sequer com formação de nível superior atuando em qualquer das emissoras de rádio, sejam elas educativas, comunitárias ou abertamente comerciais. Sendo o rádio ainda o veículo mais influente entre a população caririense, pela sua penetração e audiência, não é arriscado afirmar que há necessidade de uma qualificação maior daqueles que são responsáveis muitas vezes por serem a única fonte de informação na vida de milhares de pessoas.

Este dado se torna alarmante quando cruzado com o dado da pertença da propriedade dos veículos, ainda majoritariamente nas mãos de políticos e de igrejas (sim, isso mesmo, de igrejas!), o que influencia uma programação pouco diversificada e, frankfurteanos à parte, alienante.

Lembro de ter sido entrevistado por um repórter de um desses programas de rádio de grande audiência local (o horário nobre por aqui é o meio-dia) e o jovem simplesmente não trazia qualquer pergunta formulada facultando a mim dizer o que quisesse. Um diálogo surreal se estabeleceu a partir de então.

Recordo-me ainda dos debates acontecidos após a apresentação de uma das bolsistas do projeto – a competentíssima Débora Costa – no congresso da Intercom em Recife em setembro. Quando apresentou a realidade das rádios caririenses, a partir de um estudo de caso específico, acabou ouvindo de estudantes de diferentes estados do Brasil a informação de que havia retratado algo que era semelhante país afora.

Esses breves relatos acenderam em mim e em meu colega coordenador do projeto, Ricardo Salmito, a necessidade de criação de uma disciplina para o curso que discuta a realidade da comunicação local. Da mesma forma, será necessário abrir um debate em todo o curso sobre os estágios em veículos que não detêm jornalistas em seus quadros. Estamos diante de um dilema: permitimos aos alunos o estágio nesses locais acreditando na mudança a partir da presença deles; ou evitamos a presença deles diante de uma possível distorção da formação já que não haverá um acompanhamento de um profissional qualificado?

A primeira parte do trabalho de mapeamento deve ser concluída em dezembro. Ainda falta um bom pedaço de caminho para mapearmos todos os veículos e práticas comunicacionais locais, mas fica em mim a convicção cada vez maior da contribuição do curso de Jornalismo – tão maltratado pela falta de planejamento dos gestores da Universidade – para uma melhor comunicação da região.

Luis Celestino
Jornalista, coordenador do curso de Comunicação Social da UFC Cariri e autor do livro “A Fome na Imprensa”. 

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