domingo, 6 de novembro de 2011

Bem a (en)calhar!


A imagem da máscara da personagem V (V for Vendetta) me persegue por onde vou. Seja nas gôndolas dos supermercados, das cafeterias e das bancas de revista, a capa da Veja sobre a necessidade de se indignar contra a corrupção (desde que não seja a corrupção da própria mídia grande) se sobressai entre alhos, bugalhos e Arquitetura & Construção

É precipitado afirmar categoricamente que o encalhe de jornais e revistas nas gôndolas dos supermercados e nas bancas de revista do Cariri é a prova cabal da falta de leitura dos meios impressos na região. Primeiro porque se está ali, alguém - ou “alguéns” - deve comprar e, suponho, ler. Segundo porque nem sempre esses jornais e revistas encalham. Já procurei edições do jornal O Povo nas bancas do Cariri no domingo e constatei que todas haviam vendido todos os exemplares que chegaram. Mas não é arriscado dizer que a quantidade de pessoas que lêem jornais e revistas é pequeno. 

Um simples olhar como única fonte atrai a tentação da conclusão impressionista, xingamento para um pesquisador. Portanto, aqui não falo como pesquisador. Por sinal, só uma pesquisa séria e profunda poderia responder qual a recepção dos caririenses a revistas “de fora”. Justiça seja feita, em todo o país a leitura de jornais e revistas nunca chegou sequer perto da totalidade da população independentemente de faixa etária, classe ou cor do cabelo, mas tem entre seus leitores a classe formadora de opinião, crítica e dirigente, seja lá o que esses termos queiram dizer hoje em dia. 

O pesquisador Wilson Gomes, em seus ácidos, irônicos e inteligentes tweets, provocava outro dia: é verdade que o jornalismo que se faz na Veja mereça questionamentos por vários motivos, mas é fato que matérias divulgadas pelo hebdomadário ajudaram a derrubar cinco ministros. Somente. Quantos são os leitores de Veja e outras revistas semanais no Cariri?

Como se dá a recepção da mídia grande na região? Há leitores de jornais ou revistas estrangeiras? Qual a influência desses veículos na esfera pública local? Ou sucumbiremos à resposta nunca dantes verificada de que o que vale mesmo é a internet nos dias de hoje. A reflexão sobre a recepção de conteúdos midiáticos externos acontece também com a TV principalmente se contarmos a quantidade de residências com antenas parabólicas instaladas. Enquanto isso, sigamos vivendo a distopia de tomar café ou comprar bananas sendo observados pelo sorriso da máscara do V de Vingança. 

Luis Celestino é jornalista e autor do livro A Fome na Imprensa.